Remédios mudam tratamento de dependentes químicos
Uma nova geração
de medicamentos está mudando as perspectivas no tratamento de
dependentes químicos nos EUA. Remédios que aliviam o desejo
de consumir as drogas e vacinas para a dependência estão
sendo testados, alguns até já estão disponíveis
no mercado, como complemento aos programas tradicionais de reabilitação.
Na semana passada, a agência americana de alimentos e medicamentos
- o FDA- aprovou o acamprosato, um medicamento para bloquear a dependência
do álcool. Em geral, esses remédios atuam nos receptores
opióides cerebrais, diminuindo a fissura pela droga, um dos componentes
da dependência química.
Este é o primeiro remédio aprovado pelo FDA para tratamento
do abuso de álcool por uma década. Ele é usado
para manter as pessoas abstinentes após terem parado de beber.
O acamprosato pode não funcionar em pacientes que continuam bebendo
ou em pacientes que abusam de outras drogas além do álcool.
Já as vacinas estimulam a produção de anticorpos,
cuja molécula é maior que a da droga, o que acaba por
impedir que a molécula da droga ultrapasse a barreira hematoencefálica,
ou seja, impede que a droga chegue ao cérebro, explica o psiquiatra
Sergio Seibel, 59, presidente do Comitê Multidisciplinar de Estudos
em Dependência do Álcool e outras Drogas, da Associação
Paulista de Medicina. Assim, o usuário deixa gradativamente de
sentir o efeito proporcionado pela substância.
A vacina contra a cocaína é a promessa que está
mais perto de ser realizada. Em fase experimental em universidades americanas,
a vacina deve chegar ao mercado nos próximos anos. Vacinas contra
a heroína, a nicotina e o ecstasy são bem mais incipientes,
estão ainda em fase de estudos farmacológicos.
A nova geração de medicamentos não só dá
esperança aos pacientes e a seus familiares como é uma
mudança na visão sobre a dependência química.
Para especialistas, os novos tratamentos possibilitarão que o
problema seja visto -e tratado- como qualquer outra doença crônica.
Nos EUA, a utilização da buprenorfina tem tirado os pacientes
das clínicas de reabilitação e levado os dependentes
químicos da heroína para os consultórios médicos,
diminuindo o estigma que paira sobre estes. A substância é
uma alternativa à metadona, usada no tratamento para a dependência
de opiáceos desde os anos 60.
Dos cerca de 10 milhões de americanos dependentes químicos,
entre 180 mil e 200 mil são tratados com metadona. Só
em Nova York são 36 mil pessoas. No ano passado, médicos
norte-americanos prescreveram 80 mil receitas para a buprenorfina.
No Brasil o uso da heroína é bastante pequeno para a produção
de dados. As substâncias que mais causam dependência entre
os brasileiros são o álcool e o tabaco.
Apesar de as perspectivas serem positivas, ainda é necessário
muito trabalho e persistência por parte dos envolvidos. Os remédios,
mesmo eficientes, são um suporte médico e devem fazer
parte de uma "atitude". "Não se pode olhar a dependência
apenas com um critério biológico", diz o psiquiatra,
que ressalta a importância da psicoterapia e outras terapias mistas
no processo.
Autor: xxx
Fonte: Folha de S.Paulo
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